ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE ACESSIBILIDADE COMUNICACIONAL

Nessa etapa do módulo básico do curso, vamos apresentar para você ferramentas e orientações gerias que vão contribuir para a sua formação e, mais ainda, para melhorar a comunicação dos profissionais de saúde com o paciente.

No vídeo a seguir, você vai conhecer um conceito chamado Teach Back, uma técnica de letramento em saúde: o profissional utiliza a chamada “linguagem simples”, que vamos apresentar mais adiante, para ter certeza queo paciente compreenderá tudo o que será dito pelo profissional de saúde.

O que é teach back?

Transcrição

Tela com fundo preto contendo texto em branco. Esta licença permite que outros adaptem, remixem e criem a partir deste trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam ao autor o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos. Este vídeo contém áudiodescrição e acessibilidade em libras. 

Olá, meu nome é Eliana Paraguaçu. Sou uma mulher branca com cabelos castanho escuro, olhos verdes. Estou usando uma blusa preta com um casaco verde e calças jeans. Sou formado em letras e faço doutorado em estudos da linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Neste vídeo eu vou apresentar para vocês uma técnica de letramento em saúde chamada teach pack.

Vinheta em movimento onde quatro quadrados se conectam como em um quebra cabeça. Em cinza, trilhas da inclusão, formação básica e Acessibilidade comunicacional. Tela com fundo branco e azul, a parte branca ocupa à esquerda e o centro e se conecta com a parte azul à direita como uma peça de quebra cabeça. Os textos estão em azul e preto. Módulo introdutório: fundamentos de acessibilidade para o SUS. O que é teach back? 

Liana Paraguaçu, professora bolsista do Icict/Fiocruz 

No rodapé, quatro peças de um quebra-cabeça estão encaixadas formando um quadrado. A primeira tem fundo azul com a logo do SUS em branco. A segunda tem fundo marrom com a silhueta do Castelo da Fiocruz em branco. Abaixo, a terceira tem fundo roxo e o desenho em branco de uma lâmpada acesa. A quarta com fundo verde, o desenho de uma figura humana de braços e pernas abertas com moldura circular. Ao lado, o texto em cinza escuro. Trilhas da Inclusão. Formação básica em acessibilidade comunicacional. 

O intérprete de libras é um homem jovem, branco, de cabelos curtos, castanhos ondulados, usa camisa de botões preta. Está de pé.

O feedback é uma técnica de letramento em saúde. Essa estratégia utiliza linguagem simples para garantir que o paciente compreendeu aquilo que o profissional de saúde falou. É importante que o profissional de saúde não faça perguntas, que a resposta possa ser apenas sim ou não. Nesta técnica, uma das formas de garantir que o paciente compreendeu a informação é fazer com que ele repita essa informação com as próprias palavras. Essas dicas podem te ajudar a melhorar a comunicação com os seus pacientes e também com os familiares. Espero ter ajudado, até a próxima.

 

A imagem a seguir também vai ajudar a ilustrar o que seria o teach back.

Infográfico com um conjunto de ilustrações e textos sobre Teach Back.
No topo, à esquerda, estão as palavras Teach e Back em letra azul escura e duas setas azuis claras entre as palavras. A seta de cima aponta da palavra Back para a palavra Teach e a de baixo no sentido contrário.
Abaixo, está escrito em letra azul escura: O que é Teach Back?
Logo abaixo, em letras pretas: É uma técnica de Letramento em Saúde que melhora a comunicação entre o profissional de saúde e o familiar.
À direita, ilustração de um homem e uma mulher conversando, ambos sorrindo. Entre eles, um balcão. A mulher é uma profissional de saúde, de pele parda. Ela está atrás do balcão, usa um quepe branco com uma cruz vermelha, roupa branca e um estetoscópio pendurado no pescoço. O homem é branco, está à frente do balcão, usa blusa branca e calça azul. Há um balão de diálogo apontando para a mulher, com o sinal de interrogação e um balão apontando para o homem com o sinal de exclamação.
Abaixo, à esquerda há uma lista com três itens que vai da ponta esquerda até a ponta direita do infográfico. Os itens estão lado-a-lado e são identificados pelos numerais 1, 2 e 3, em letra azul escura dentro de um círculo azul claro. Ao lado dos itens, há os seguintes textos em letra preta:
1. É uma forma de garantir que o profissional de saúde explicou a informação de forma clara
2. Técnica em que o paciente (ou familiar) deve explicar, nas suas próprias palavras, o que ele precisa saber, fazer com relação ao seu tratamento
3. Uma maneira de se certificar de que o que foi dito foi compreendido. É preciso explicar novamente quantas vezes forem necessárias.
Abaixo, à esquerda, está a ilustração da profissional de saúde, com expressão séria, braço esquerdo erguido, com dedo indicador levantado e braço direito dobrado com a mão apoiada no quadril. Atrás dela há um símbolo vermelho que indica

Os dois vídeos a seguir sobre Teach Back mostram uma paciente surda que vai ao médico com a presença do intérprete de libras. Observe como a forma como o médico se comporta em cada um faz total diferença. 

Caso I

Transcrição

Tela com fundo preto contendo texto em branco. Esta licença permite que outros adaptem, remixem e criem a partir deste trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam ao autor o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos. Este vídeo contém áudiodescrição e acessibilidade em libras. 

Vinheta em movimento onde quatro quadrados se conectam como em um quebra cabeça. Em cinza, trilhas da inclusão, formação básica e Acessibilidade comunicacional. Tela com fundo branco e azul, a parte branca ocupa à esquerda e o centro e se conecta com a parte azul à direita como uma peça de quebra cabeça. Os textos estão em azul e preto. Módulo introdutório: fundamentos de acessibilidade para o SUS. Teach Back caso 1. 

No rodapé, quatro peças de um quebra-cabeça estão encaixadas formando um quadrado. A primeira tem fundo azul com a logo do SUS em branco. A segunda tem fundo marrom com a silhueta do Castelo da Fiocruz em branco. Abaixo, a terceira tem fundo roxo e o desenho em branco de uma lâmpada acesa. A quarta com fundo verde, o desenho de uma figura humana de braços e pernas abertas com moldura circular. Ao lado, o texto em cinza escuro. Trilhas da Inclusão. Formação básica em acessibilidade comunicacional. 

Um médico atende uma paciente surda e seu intérprete.

Médico: Cláudia, seus exames estão bons, mas eu não vejo seu exame de transluscência nucal.

O intérprete traduz para Cláudia.

Intéprete/Marido:Falou que que o exame está bom, mas falta….

Médico: transluscência nucal

 Intérprete/Marido: O exame…

Sinaliza novamente. 

Médico: Olha esse exame precisa ser feito de 11 a 13 semanas de gestação. 

Precisa fazer com 11 semanas de gestação. 

Médico: A gente precisa desse exame.

Intérprete/Marido: Precisa. É, doutor, é, a gente não entendeu o que que esse exame? 

Médico: Então, esse exame é para identificar a existência de anomalias cromossômicas. Ele tem que ser feito no primeiro trimestre de gestação. Você entendeu, Cláudia?

Narrador: Ela faz que não com a cabeça e pergunta em libras.

Cláudia em libras: Mas o nosso bebê tem alguma coisa? 

Intérprete/Marido: Nosso bebê tem alguma coisa?

Médico: Não sabemos. Cláudia, é só um exame. Você entendeu?

O intérprete sinaliza. 

 

Caso II

Transcrição

Tela com fundo preto contendo texto em branco. Esta licença permite que outros adaptem, remixem e criem a partir deste trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam ao autor o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos. Este vídeo contém áudiodescrição e acessibilidade em libras. 

Vinheta em movimento onde quatro quadrados se conectam como em um quebra cabeça. Em cinza, trilhas da inclusão, formação básica e Acessibilidade comunicacional. Tela com fundo branco e azul, a parte branca ocupa à esquerda e o centro e se conecta com a parte azul à direita como uma peça de quebra cabeça. Os textos estão em azul e preto. Módulo introdutório:  Fundamentos de acessibilidade para o SUS.  Teach back caso 2 

No rodapé, quatro peças de um quebra-cabeça estão encaixadas formando um quadrado. A primeira tem fundo azul com a logo do SUS em branco. A segunda tem fundo marrom com a silhueta do Castelo da Fiocruz em branco. Abaixo, a terceira tem fundo roxo e o desenho em branco de uma lâmpada acesa. A quarta com fundo verde, o desenho de uma figura humana de braços e pernas abertas com moldura circular. Ao lado, o texto em cinza escuro. Trilhas da Inclusão. Formação básica em acessibilidade comunicacional. 

O médico conversa com pacientes, vem seu intérprete.

Olá, bom dia, que bom revê-los. Cláudia, antes de examinar você, a gente vai conversar um pouquinho. Estou vendo que você me trouxe alguns exames, certo?

O intérprete traduz para Cláudia que entrega os exames para o médico.

Olha, pelos exames, estou vendo que o bebê está se desenvolvendo muito bem. Cláudia, você tem alguma queixa de mal-estar, enjoo? Como estão sendo os seus primeiros meses de gestação?

Ela responde sinalizando e o intérprete traduzindo.

Ela não está se sentindo enjoada. O  remédio que você receitou yem ajudado. Ela está melhor. 

Ah, que bom. Eu só estou sentindo falta de um exame. Esse exame se tem um nome um pouquinho complicado, esse chama translucência local.

O intérprete sinaliza para Cláudia.

Esse exame ele serve para identificar se o bebê tem alguma má formação. O exame pode identificar se o bebê tem alguma síndrome. Um exemplo de síndrome genética é a síndrome de down, mas existem outras. Calma, não precisa se preocupar. Todas as grávidas precisam fazer esse exame. É um exame de rotina, como outros.

Cláudio faz sinal de afirmativo com a cabeça.

Cláudia, você entendeu direitinho, explica para mim o que você entendeu.

Ela sinaliza em libras.

Eu preciso fazer esse exame para saber se o bebê tem alguma má formação. 

Muito. Bem, vocês estão de parabéns. Não se esqueçam de ler o manual do pré-natal em casa na próxima consulta, tragam as dúvidas de vocês.

A linguagem simples, por sua vez, também é uma importante técnica de comunicação que cada vez mais vem sendo utilizada pelo profissional de saúde no atendimento de seus pacientes. Essa linguagem consiste em uma forma de comunicação direta, objetiva e inclusiva para que todo mundo compreenda o que está sendo dito. No vídeo a seguir, vamos apresentar esse conceito, a técnica e seus usos.

O que é linguagem simples?

Transcrição

Tela com fundo preto contendo texto em branco. Esta licença permite que outros adaptem, remixem e criem a partir deste trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam ao autor o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos. Este vídeo contém áudiodescrição e acessibilidade em libras. 

Olá, meu nome é Eliana Paraguaçu. Sou uma mulher branca com cabelos castanho escuro, olhos verdes. Estou usando uma blusa preta com um casaco verde e calças jeans. Sou formado em letras e faço doutorado em estudos da linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Eu estudo e trabalho com linguagem simples. Você sabe o que é linguagem simples?

Vinheta em movimento onde quatro quadrados se conectam como em um quebra cabeça. Em cinza, trilhas da inclusão, formação básica e Acessibilidade comunicacional. Tela com fundo branco e azul, a parte branca ocupa à esquerda e o centro e se conecta com a parte azul à direita como uma peça de quebra cabeça. Os textos estão em azul e preto. Módulo introdutório: Fundamentos de acessibilidade para o SUS. O que é linguagem simples? 

Liana Paraguaçu, professora bolsista Icict/Fiocruz 

No rodapé, quatro peças de um quebra-cabeça estão encaixadas formando um quadrado. A primeira tem fundo azul com a logo do SUS em branco. A segunda tem fundo marrom com a silhueta do Castelo da Fiocruz em branco. Abaixo, a terceira tem fundo roxo e o desenho em branco de uma lâmpada acesa. A quarta com fundo verde, o desenho de uma figura humana de braços e pernas abertas com moldura circular. Ao lado, o texto em cinza escuro. Trilhas da Inclusão. Formação básica em acessibilidade comunicacional. 

O intérprete de libras é um homem jovem, branco, de cabelos curtos, castanhos ondulados, usa camisa de botões preta. Está de pé.

Neste vídeo eu vou falar para vocês um pouco sobre uma forma de comunicação que vem ganhando espaço no Brasil e no mundo. No mundo, a linguagem simples já é utilizada há muito mais tempo. Em países como Inglaterra, Estados Unidos, eles têm até uma lei sobre o tema. Portugal já ganhou também a sua lei sobre linguagem simples. No Brasil, está tramitando uma lei sobre o tema que, se aprovada, vai mudar a maneira como os órgãos públicos se comunicam com a população. 

Apesar de ainda não termos uma lei, já existem várias iniciativas que buscam facilitar a comunicação com o cidadão. Uma dessas iniciativas é a linguagem simples lab, um laboratório de inovação e linguagem simples, que é o resultado da união dos esforços de vários agentes públicos que buscam facilitar a comunicação com o cidadão. 

Mas o que é linguagem simples, afinal? A linguagem simples é uma forma de comunicação objetiva, direta e, principalmente, inclusiva, pois ela é para todos. Ela é para todos, porque ela é pensada para incluir pessoas, independente do seu nível de letramento, escolaridade ou se tem ou não algum tipo de deficiência. A linguagem simples também pode ser um primeiro passo para facilitar a comunicação com pessoas com deficiência. Afinal, é muito mais fácil traduzir um texto em libras que esteja simplificado do que um texto super complexo, não é mesmo? 

A linguagem simples é uma técnica que utiliza várias estratégias para facilitar a comunicação. Essas estratégias envolvem tanto a facilitação da estrutura do texto como do vocabulário, ou até mesmo utilizam outros recursos, como figuras e gráficos que ajudem na compreensão da mensagem. Mas o mais importante é que a linguagem simples é pensada para o leitor e o interlocutor. O nosso leitor ou interlocutor com quem nos comunicamos vai ser sempre a bússola da mensagem que vamos produzir. 

Identificamos que um texto está em linguagem simples, quando a pessoa é capaz de encontrar a informação de forma fácil, ou quando ela compreende a informação disponibilizada, ou ainda quando consegue utilizar essa informação em benefício próprio ou em benefício de outras pessoas. 

Agora, também é importante destacar o que não é linguagem simples. Linguagem simples não é falar de uma forma simplória ou infantilizada, como se você estivesse se dirigindo a uma criança. Também não é utilizar gírias ou linguagem de internet. Essa pode ser sim, uma técnica de comunicação, mas não é linguagem simples. 

Linguagem simples é seguir as regras gramaticais do português brasileiro. É seguir a norma oculta. Existem outras estratégias de comunicação que podem aproximar você do leitor, como as gírias e a linguagem de internet que eu falei, mas elas devem ser usadas com cuidado. 

Linguagem simples também não é retirar conteúdos importantes do texto só porque esses conteúdos estão complexos para o leitor. Você precisa ajudar o seu leitor a compreender. 

Linguagem simples é uma rampa de acesso de ajuda ao leitor na compreensão da mensagem. Neste vídeo eu vou falar de algumas estratégias que podem ajudar você a facilitar a comunicação com o leitor ou o interlocutor. Existem inúmeras estratégias para facilitar um texto. Se eu pudesse escolher apenas 3, dar apenas 3 dicas para vocês, eu iniciaria com primeiro: organize as ideias e conteúdo. Pense quem é o seu leitor ou interlocutor. Pense na mensagem que você quer passar para ele. Pense se o conteúdo é adequado para o seu leitor ou interlocutor. Se você estiver simplificando um texto da área da saúde, por exemplo, pense se a informação realmente é relevante para o seu leitor ou interlocutor. Ou se é importante apenas para um profissional da saúde? A segunda dica que eu daria é pensar na estrutura do texto. Frases muito longas podem dificultar a compreensão. Então tente falar o conteúdo no mínimo de palavras que você conseguir. E a terceira dica é: pense no vocabulário, nos termos técnicos, que são aquelas palavras que são da linguagem especializada da área. Mas também não se esqueça das palavras comuns, pois algumas palavras podem dificultar muito a compreensão. Afinal, quem sabe o que quer dizer indubitavelmente paradigma ou efémero? Para saber mais sobre o tema, consulte o guia de linguagem simples do ICICT Fiocruz.

 

Estamos chegando ao final do módulo básico. E para terminar, nos vídeos a seguir vamos apresentar algumas reflexões sobre a importância da Acessibilidade Comunicacional para os profissionais de saúde e de outras áreas também, a partir de uma perspectiva dos Direitos Humanos.

No primeiro vídeo, por exemplo, entre outras coisas, você vai conhecer a diferença entre comunicação acessível e comunicação inclusiva e a importância de unir as duas no contexto do SUS

Inclusão na comunicação, informação e saúde

Transcrição

Tela com fundo preto contendo texto em branco. Esta licença permite que outros adaptem, remixem e criem a partir deste trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam ao autor o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos. Este vídeo contém áudiodescrição e acessibilidade em libras. 

Vinheta em movimento onde quatro quadrados se conectam como em um quebra cabeça. Em cinza, trilhas da inclusão, formação básica e Acessibilidade comunicacional. Tela com fundo branco e azul, a parte branca ocupa à esquerda e o centro e se conecta com a parte azul à direita como uma peça de quebra cabeça. Os textos estão em azul e preto. Módulo introdutório: Fundamentos de Acessibilidade para o SUS. Inclusão na comunicação, informação e saúde. 

Cláudia Werneck professora convidada, jornalista e idealizadora da escola de gente comunicação e Inclusão 

No rodapé, quatro peças de um quebra-cabeça estão encaixadas formando um quadrado. A primeira tem fundo azul com a logo do SUS em branco. A segunda tem fundo marrom com a silhueta do Castelo da Fiocruz em branco. Abaixo, a terceira tem fundo roxo e o desenho em branco de uma lâmpada acesa. A quarta com fundo verde, o desenho de uma figura humana de braços e pernas abertas com moldura circular. Ao lado, o texto em cinza escuro. Trilhas da Inclusão. Formação básica em acessibilidade comunicacional. 

Cláudia Werneck é uma mulher branca de pele clara. Tem os cabelos loiros lisos, curtos, com a franja espetada para cima. Usa óculos de grau com ar marrom e blusa preta ao fundo, janela envidraçada com árvores ao longe. 

A intérprete de libras é uma mulher preta de pele clara, cabelos pretos, lisos, presos, usa blusa branca com detalhes pretos. Está de pé.

E o nosso SUS faz 30 anos, tem princípios admiráveis, democráticos e eu fecho com todos eles. Mas não dá para celebrar totalmente o SUS nesses 30 anos, porque sem uma prática cotidiana de comunicação acessível e comunicação inclusiva, a prática do SUS e a prática da saúde no Brasil, em qualquer lugar se torna uma prática discriminadora, censuradora e impedidora dos direitos, principalmente do direito de se comunicar e de ser comunicado como algo que sustenta e é uma estratégia para a garantia do direito à saúde. 

Vou contar uma história muito importante que me contaram e que eu relato sempre. Um dia, há muitos anos, um grupo de residentes do Sousa Aguiar, hospital público no centro do Rio de Janeiro, veio me entrevistar. Ao final da entrevista, eles me contaram o seguinte. Que havia no Souza Aguiar, que na época, eu não sei como é hoje, era uma referência na aula de em queimados e queimadas. Havia o homem que lá chegou muito queimado, totalmente. macerado, ele acabou inclusive falecendo. E foi todo cuidado por causa da queimadura com ataduras e ficou imobilizado. E para espanto dos médicos e das médicas, esse paciente que devia estar sentindo muita dor, nunca pedia por mais analgésicos. Era um espanto, né? As pessoas viam o prontuário, trocavam plantão, e ele não pedia por mais analgésicos. Ninguém ia visitá-lo. Ele era uma pessoa só que veio aparentemente uma situação de rua. E até que um dia alguém descobriu que estava acontecendo com ele. Ele era um homem queimado e surdo, e por não haver como se comunicar pela língua de sinais brasileira, libras, que é uma língua oficial no Brasil, ele não conseguia expressar a sua dor. Essa história é muito elucidativa do quanto nós somos “naives” e toscos no modo como fazemos as principais conexões e os apegamos a elas, conexões psíquicas neuronais, por mais, por mais que elas nos pareçam boa. A minha pergunta é, como que não existia no pensamento desses médicos e médicas no hospital público que atende a toda a população, mas que é muito, é frequentada pela população pobre, é de baixa renda, como possível a combinação homem surdo, pobre e queimado. O que eu quero dizer é que nós estamos apegados a conexões neuronais, psíquicas, energéticas, cidadãs muito pobres que não dão conta de todas as possibilidades que existem. Isso gera um grande sofrimento. Um jornalista, por exemplo, sai da faculdade sem ter uma aula sobre como entrevistar uma pessoa que tem deficiência intelectual e vai falar de política. A deficiência intelectual, no caso da comunicação, ela é muito mais desafiadora porque você não tem uma tecnologia para usar. É você com você.

Importância da linguagem simples.

Nessa direção, a escola de gente, que é a organização que eu fundei há 16 anos de comunicação e inclusão, ela vem estudando desde 2011. É um recurso de Acessibilidade comunicacional chamado linguagem simples. A linguagem simples ela não é uma dúvida, não é uma pergunta. Ela é uma corresponsabilização das pessoas para que aquele conteúdo circule de forma que ele possa ser recebido e devolvido, ou seja, que se expresse sobre aquele conteúdo de forma muito, com muita equidade, com muita equiparação na comunicação. A

 linguagem simples inicialmente, foi pensada para pessoas com deficiência intelectual, mas ela é muito importante para que pacientes recebam uma receita. Eu até vi outro dia uma médica no Brasil que fez uma linguagem simples para explicar o paciente como ele ia tomar os remédios. Ele recortou, fez desenho. É uma ilusão achar que as pessoas atendidas no SUS, independentemente do grau de instrução e da de onde moram, entendem todas as orientações que são dadas pela saúde. Então, de novo, a linguagem simples foi pensada para pessoas com deficiência intelectual, mas ela é muito útil para crianças, para pessoas idosas, para pacientes psiquiátricos que estão tomando alguma medicação. É que de algum modo, podem interferir no pensamento e na absorção do que está sendo falado. Pessoas com baixo letramento, o Brasil é um país de muitas pessoas analfabetas. As pessoas refugiadas, que não dominam a língua portuguesa. Então a linguagem simples, a minha sugestão é que o SUS, a partir de agora tenha interesse e vá se adaptando nas suas formas de se comunicar virtualmente, nos documentos nos formulários nos vídeos de que dissemina, na receita. Essa ideia da letra do médico ter virado quase uma coisa charmosa, que ninguém entende. É um absurdo na verdade, né? É um absurdo você achar que é natural que as pessoas da área de saúde se comuniquem com pacientes  de forma autoritária, é arrogante. Então não adianta ter o SUS se as pessoas que fazem o SUS virar a realidade, no pequeno detalhe…. Não é só a vaga que não tem, não é só fila que é furada. É a receita. A receita também é uma agressão do ponto de vista da comunicação, inclusive acessível. 

Aproveitando, eu queria fazer uma distinção entre o conceito de comunicação inclusiva e de comunicação acessível. A comunicação acessível é aquela que oferece ampla, diversificada oferta de acessibilidade, comunicacional: linguagem simples, libras é legendas estenotipia, para pessoa surda que não se utiliza da libras, com as pessoas implantadas. É áudio descrição, material em braile para pessoas cegas, uma visita tátil ao hospital para alguém cego que está internado antes de ficar internado. A linguagem simples, como eu já falei. É tudo que que se refere à comunicação tem que dar conta de todas as formas de comunicação humana, porque são todas legitimamente humanas. Não existe uma comunicação de maior valor de menor valor. Todas as formas de comunicação são legitimamente humanas e devem ser oferecidas gratuitamente para fortalecer o SUS em todos os espaços. Isso é a comunicação acessível, tem muita oferta de acessibilidade. Entretanto, eu posso ter muita oferta de acessibilidade no ambiente cujo tema é homofobia, o nazismo, o terrorismo, a violência, e o racismo. Ou seja, eu posso oferecer essa Acessibilidade toda para sustentar algo que não é garantidor dos direitos humanos. E aí chegamos então ao conceito de comunicação inclusiva. Essa diferenciação, uma diferenciação da escola de gente, é um conceito nosso. A comunicação inclusiva seria: ela tem que ser coerente na forma e no conteúdo, certo. Então nós temos toda Acessibilidade presente, mas o conteúdo não discrimina, o conteúdo é garantidor de direitos humanos. O conteúdo é um conteúdo que não é arrogante, que não gera privilégios. Ele não sai do âmbito da garantia de direitos. Esse é um aspeto da comunicação, inclusive, então. Já falamos de doi, um é que tem que ser coerência entre forma e conteúdo. Tem que ter Acessibilidade, ampla oferta de Acessibilidade comunicacional. O segundo ponto é que o tema é um tema de inclusão de direitos humanos e o terceiro ponto é que as pessoas que se comunicam numa comunicação inclusiva, elas se percebem como tendo o mesmo valor, porque senão nós não temos uma comunicação inclusiva. Se alguém acha que é mais importante do que o outro, então de novo, a minha pergunta nesse ano de celebração de 30 anos do SUS: Os médicos, as médicas, as enfermeiras, os gestores, as gestoras dos hospitais se sentem mais importante do que os pacientes, as professoras, as gestoras da educação se sentem mais importantes do que os estudantes e as estudantes? As famílias, as pessoas adultas de uma família se sentem mais importantes com direitos mais substanciais do que uma criança que elas educam?  A verdade é que eu acho que sim. Eu acho que existe ainda uma sensação, uma prática muito dolorosa, de que nós sempre achamos que estamos numa situação superior a outra o tempo todo. E quando a gente acha que está numa posição inferior, vem logo o sentimento de rejeição, de exclusão. Mas na verdade, é tudo. É tudo junto. A prática discriminatória é corriqueira e os pacientes também podem discriminar os médicos e as médicas por qualquer razão. Pode ser uma paciente jovem e o médico ser idoso. A questão intergeracional, a ética intergerações é uma questão muito séria hoje em qualquer ambiente de trabalho e também nos atendimentos públicos da saúde e em outros. 

Então, o que eu estou propondo a vocês é uma grande navegação, que não é virtual, é prática, quotidiana, diária. De que nós de fato consigamos promover uma comunicação entre todas as pessoas, especialmente entre pessoas como e sem deficiência. Porque eu acho que até hoje, pessoas com e sem deficiência não se comunicam entre si e pessoas e com diferentes deficiências também não se comunicam. E o dia que todos nós nos comunicar, nós estaremos vivendo um Novo Tempo de comunicação. Algo fenomenal. E eu tenho certeza que descobriremos soluções para grandes dilemas até hoje, nunca enfrentados ou nunca resolvidos, porque hoje nós deixamos de lado o saber de número enorme de pessoas, pessoas com deficiência que não têm como além de acessar o saber que a sociedade acessa oferecerem os seus saberes.  A acessibilidade na comunicação não é eu fazer alguma coisa para o outro saber o que eu estou fazendo e falando de importante, a acessibilidade na comunicação é para eu também saber o que é que aquela pessoa que tantas vezes eu discrimino e considero de menor valor tem para me dizer. E aí então nós teremos caminhando com muita força e velocidade para essa sociedade inclusiva que nós queremos que o SUS se eleve não nos seus princípios, mas na sua prática, adotando uma comunicação acessível e inclusiva também, circular para todos os lados. E será um grande dia aí a gente vai celebrar com mais força ainda.

Já no segundo vídeo, você vai conhecer como uma inclusão de fato pode transformar a sociedade!

O impacto da inclusão para a comunicação

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Tela com fundo preto contendo texto em branco. Esta licença permite que outros adaptem, remixem e criem a partir deste trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam ao autor o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos. Este vídeo contém áudiodescrição e acessibilidade em. Libras. 

Vinheta em movimento onde quatro quadrados se conectam como em um quebra cabeça. Em cinza, trilhas da inclusão, formação básica e Acessibilidade comunicacional. Tela com fundo branco e azul, a parte branca ocupa à esquerda e o centro e se conecta com a parte azul à direita como uma peça de quebra cabeça. Os textos estão em azul e preto. Módulo introdutório: Fundamentos de Acessibilidade para o SUS. O impacto da inclusão para a comunicação. 

Claudia Werneck, Professora convidada, jornalista e idealizadora da escola de gente comunicação e inclusão 

No rodapé, quatro peças de um quebra-cabeça estão encaixadas formando um quadrado. A primeira tem fundo azul com a logo do SUS em branco. A segunda tem fundo marrom com a silhueta do Castelo da Fiocruz em branco. Abaixo, a terceira tem fundo roxo e o desenho em branco de uma lâmpada acesa. A quarta com fundo verde, o desenho de uma figura humana de braços e pernas abertas com moldura circular. Ao lado, o texto em cinza escuro. Trilhas da Inclusão. Formação básica em acessibilidade comunicacional. 

Cláudia Werneck é uma mulher branca de pele clara. Tem os cabelos loiros lisos, curtos, com a franja espetada para cima. Usa óculos de grau com aro marrom e blusa preta ao fundo, janela envidraçada com árvores ao longe. 

A intérprete de libras é uma mulher preta de pele Clara, cabelos pretos, lisos presos, usa blusa branca com detalhes pretos. Está de pé.

A inclusão é um conceito que nos dá a possibilidade de expandir. expandir muito, não só o intelecto, mas algo que é fundamental que a nossa, o nosso tempo de comunicação. Todas as formas de comunicação, quando se reúnem na inclusão, vão gerar um desafio interessantíssimo e muito pouco vivido nas sociedades ocidentais tradicionais, que é o desafio de saber como é de fato exercer o seu direito de se comunicar e de ser comunicado. 

A inclusão é algo que pode nos ensinar a votar melhor, a amar melhor, a viver melhor, a educar melhor, a envelhecer melhor, porque ela nos permite olhar para todos os lados ao mesmo tempo, sem ceder essa tentação de nos apegarmos ao que já sabemos, porque o que nós sabemos só nos trouxe até aqui e hoje o mundo não está bom para ninguém, a sociedade não está boa para ninguém. Então nunca fazemos inclusão para o outro, fazemos inclusão para nós mesmos. E essa é a grande medita da força propulsora de desenvolvimento humano que esse conceito traz.

 

Quer saber mais sobre o tema? Confira os nossos materiais complementares.

Agora que você já finalizou o módulo introdutório, escolha as suas trilhas do conhecimento: Pessoa Surda ou Pessoa com Surdez, Pessoa com deficiência visual ou Pessoa com deficiência intelectual.

Você pode fazer todas as trilhas, duas ou apenas uma.

Materiais complementares


icone de download Documento linguagem simples na saúde
icone de download Documento com orientações sobre práticas comunicacionais anticapacitistas