DESAFIOS NO ATENDIMENTO A PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL CEGUEIRA

No vídeo a seguir, vamos continuar abordando as barreiras no atendimento de saúde enfrentadas por pessoas com deficiência visual – como a falta de preparo dos profissionais, e apresentar mais algumas dicas que podem ser úteis.

Transcrição

Tela com fundo preto contendo texto em branco. Esta licença permite que outros adaptem, remixem e criem a partir deste trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam ao autor o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos. Este vídeo contém audiodescrição e acessibilidade em libras.  

Meu nome é Bruna. Eu tenho 32 anos, sou deficiente visual desde que nasci. Eu sou branca, tenho cabelo longo com mecha. Estou com macacão preto. E atrás de mim, ao fundo, tem a imagem da biblioteca de Manguinhos, aqui no campus da Fiocruz.

Vinheta em movimento onde quatro quadrados se conectam como em um quebra-cabeça. Em cinza, Trilhas da Inclusão, formação básica em acessibilidade comunicacional. Tela com fundo branco e azul. A parte branca ocupa a esquerda e o centro e se conecta com a parte azul à direita como uma peça de quebra-cabeça. Os textos estão em azul e preto. Trilhas da inclusão na perspectiva da deficiência visual: Cegueira e Baixa Visão. Desafios no atendimento a pessoas com deficiência visual: Cegueira. 

Bruna Catalan da Paixão, convidada, jornalista e assistente social. 

No rodapé, quatro peças de um quebra-cabeça estão encaixadas formando um quadrado. A primeira tem fundo azul com a logo do SUS em branco. A segunda tem fundo marrom com a silhueta do castelo da Fiocruz em branco. Abaixo, a terceira tem fundo roxo e o desenho em branco de uma lâmpada acesa. A quarta com fundo verde, o desenho de uma figura humana de braços e pernas abertas com moldura circular. Ao lado, o texto em cinza escuro. Trilhas da Inclusão: Formação básica em acessibilidade comunicacional.  

O intérprete de libras é um homem jovem, branco, de pele clara e cabelos curtos, castanhos claros ondulados, usa blusa preta e está de pé.

A minha deficiência é uma deficiência que se deu por conta de algumas complicações que a minha mãe teve na gravidez. Dentre elas, a toxoplasmose, que é um vírus que ela adquiriu por conta do contacto com o gato durante a gravidez e dentre outras situações que… ocasionaram a minha deficiência visual.  

Por muitos anos eu fui usuária de plano de saúde. Então, desde quando eu descobri a minha deficiência eu comecei a ter acesso ao plano de saúde. Porém, em 2013 que foi quando eu fui sair de casa, fui ter a minha Independência, a minha autonomia é. Quando faz uma escolha, a gente sabe que dessa escolha podem vir consequências, sejam elas boas ou ruins. E uma das consequências foi que eu perdi o meu plano de saúde porque a pessoa que era responsável pagava o meu plano de saúde e não concordou com essa minha decisão de sair de casa. Então um dos castigos foi perder meu plano de saúde. Então, de 2013 para cá, eu comecei a usar o. Sistema único de saúde, o SUS. A gente sabe que quem usa plano de saúde precisa fazer um exame. Você vai lá e marca, faz rápido, é precisa de uma consulta, você vai lá e faz rápido. E no SUS não é muito assim. Você tem dificuldades para marcar consulta, você fica meses e meses numa fila para fazer um exame. Por muito tempo eu usei o recurso de saúde pública em Nova Iguaçu, na Baixada. Eu tinha muita dificuldade porque eu conseguia fazer até uma consulta, mas eu não conseguia fazer os exames. E aí eu…  vim para o para o Rio conseguir fazer o cadastro em um posto de saúde daqui do Rio, ali em Copacabana, e comecei a me tratar ali. É um tratamento assim, totalmente diferente, sabe? Parece que a gente está em outra realidade. É a gente parece que vive em outro contexto. O que eu não conseguia na Baixada, eu passei a conseguir aqui no Rio. Demorava para sair um exame. Demorava, mas saía.  Então eu comecei a usar. A minha maior dificuldade com o SUS, com o posto de saúde com os profissionais de saúde, eu acho que foi o despreparo. Porque no início, eu arrumava muita briga. quando eu resolvi que eu ia ser dona de mim mesma, eu passei a não aceitar que as pessoas me tratassem com preconceito, que praticassem o capacitismo comigo. Então eu comecei a me defender mais. Uma vez, por exemplo, eu estava esperando para ser atendida, e eu vi uma funcionária, uma atendente do posto de saúde, destratando uma senhora de idade. E aquilo mexeu comigo de uma tal forma que eu peguei e comprei a briga da pessoa, porque eu estava vendo que ela estava se valendo de um de um, supostamente de um direito que ela não tinha, que era destratar alguém. Desde o momento que ela se dispõe a ser funcionária de um posto de saúde, ela precisa saber tratar as pessoas. E aí eu fui, falei, briguei com ela, fui e procurei a direção do posto de saúde, procurei o serviço de assistência social do posto, fiz reclamação, fiz tudo o que eu podia fazer para não deixar que vou passar. E eu percebi que depois disso as coisas mudaram um pouco. Quando eu chegava no posto de saúde, por exemplo, eu tinha que ficar procurando, porque lá a gente é dividido por equipes, então cada região do bairro tem uma equipe. Então eu tinha que chegar no posto e ficar procurando onde estava a minha. E depois dessa situação, eu percebi que quando eu botava para dentro do posto, já aparecia um funcionário p ara auxiliar. E então, assim, aqui não me deu uma sensação de que às vezes você passa por mal-educado, às vezes você passa por uma pessoa é que que é que é briguenta, que arruma briga por tudo, que arruma confusão por tudo, mas às vezes você precisa disso para você mostrar para a pessoa que não é porque você está ali num serviço público, que é um direito seu, ninguém te dando de favor, é um direito que você tem. Não é porque ela está ali que ela pode achar que pode te maltratar. 

Quando eu morava em Nova Iguaçu, eu nunca recebi na minha casa uma agente de saúde. Eu fui saber que eu tinha uma agente de saúde aqui quando eu vim para o Rio, que eu passei a me atender por aqui, aí eu descobri que eu tinha uma agente de saúde, porque lá em Nova Iguaçu nunca foi na minha casa e tudo era assim: “Ah, você precisa de algo?” Procura agente de saúde. “Você precisa de uma consulta?” Procura seu agente de saúde. Você procurava o seu agente de saúde e você não encontrava. Algumas vezes a minha tia ia comigo no médico, até porque eu tenho um pouco de receio de ir ao médico sozinha. Então eu quando precisava chamava ela para ir comigo. Uma coisa que me incomodava muito é que quando o médico ia falar alguma coisa, ele não se dirigia a mim, ele se dirigia a minha tia. E aí a minha tia falava: Não, mas é ela que está se atendida, então conversa com ela. Então assim é, às vezes, pelo fato de você ter uma deficiência e quando você vai acompanhado de alguém que não tem deficiência, existe essa questão do médico quando está te atendendo se referir ao seu acompanhante e não a você. E isso é uma coisa que incomoda. A maioria dos profissionais precisam entender que você tem sim uma deficiência, mas você é uma pessoa que você tem capacidade suficiente para responder pelos seus atos e dizer o que você está sentindo, o que você não está sentindo. A gente sabe que tem muitas deficiências, que a pessoa precisa de alguém que responda por ela, porque são deficiências mais agressivas, são situações, são outro contexto. Mas no meu caso, que eu só tenho deficiência visual, e eu ando, falo, faço tudo como qualquer outra pessoa. Eu não posso deixar que as pessoas me tratem como se eu fosse incapaz.

 Isso às vezes me dá uma angústia muito grande, porque eu sei do potencial que a nossa saúde tem. Aqui na Fiocruz, esse tempo que eu estou aqui dentro da Fiocruz, eu venho acompanhando mais de perto os trabalhos que são feitos, as pesquisas. Então eu sei que a nossa saúde tem um potencial muito grande. A gente tem muitos profissionais bons, só que eu acho que precisa de um pouco de preparo e um pouco de cuidado com essa questão da saúde pública aqui no Rio, porque a gente tem tudo para ser referência. Nesse curso, as pessoas vão poder ter uma noção, pelo menos introdutória, de situações e de soluções para resolver aquelas situações um pouco embaraçosas. 

No caso de uma pessoa cega, você não pegar na pessoa, mas sim oferecer o seu ombro, o seu braço para que a pessoa segure em você, você tentar dar um panorama do ambiente que a pessoa está, onde ela está. Dar um panorama de onde fica a saída, se tem porta de emergência, onde fica o banheiro. Quando for fazer uma aplicação de medicamento, você dizer o que você está aplicando, como que você vai aplicar, o que que você está fazendo ali naquele determinado momento.  Sempre tentar passar para a pessoa tudo o que está acontecendo com ela, uma para que ela possa se sentir segura e outra para que ela possa se sentir incluída.

 

A próxima etapa desse módulo vai abordar tecnologia assistiva, uma ferramenta importante que propicia autonomia as pessoas com deficiência visual.