DESAFIOS NO ATENDIMENTO A PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL BAIXA VISÃO
Após abordar um pouco sobre a legislação, no vídeo a seguir vamos apresentar algumas barreiras que as pessoas com deficiência visual – enfrentam no atendimento de saúde e, ao mesmo tempo, dicas simples que podem fazer a diferença.
Transcrição
Tela com fundo preto contendo texto em branco. Esta licença permite que outros adaptem, remixem e criem a partir deste trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam ao autor o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos. Este vídeo contém audiodescrição e acessibilidade em libras.
Olá, boa tarde, bom dia, boa noite. Meu nome é Yndianna, tenho 26 anos. Vou me autodescrever. Eu sou uma mulher de pele negra. Eu tenho cabelos até o ombro pretos, lisos. Estou usando óculos preto, estou usando uma blusa da cor preta com uma jaqueta jeans, onde nos meus bolsos têm desenhos coloridos dos dois lados da jaqueta. E eu estou aqui na Fiocruz e atrás de mim está aparecendo o castelo da Fiocruz. Sou estudante de Museologia.
Vinheta em movimento onde quatro quadrados se conectam como em um quebra-cabeça. Em cinza, Trilhas da Inclusão, formação básica em acessibilidade comunicacional. Tela com fundo branco e azul. A parte branca ocupa a esquerda e o centro e se conecta com a parte azul à direita como uma peça de quebra-cabeça. Os textos estão em azul e preto. Trilhas da inclusão na perspectiva da deficiência visual: Cegueira e Baixa Visão. Desafios no atendimento a pessoas com deficiência visual: baixa visão
Yndianna Cabral Gouveia Viana convidada estudante de Museologia
No rodapé, quatro peças de um quebra-cabeça estão encaixadas formando um quadrado. A primeira tem fundo azul com a logo do SUS em branco. A segunda tem fundo marrom com a silhueta do castelo da Fiocruz em branco. Abaixo, a terceira tem fundo roxo e o desenho em branco de uma lâmpada acesa. A quarta com fundo verde, o desenho de uma figura humana de braços e pernas abertas com moldura circular. Ao lado, o texto em cinza escuro. Trilhas da Inclusão: Formação básica em acessibilidade comunicacional.
O intérprete de libras é um homem jovem, branco, de cabelos curtos, castanhos ondulados, usa camisa de botões preta. Está de pé.
Todas as vezes que eu procuro o atendimento de saúde do SUS, no meu caso são as upas do meu bairro, a maioria das vezes, por questões é de saúde, como dor de cabeça, garganta inflamada, resfriado e até mesmo casos mais delicados, como precisar fazer um exame de sangue ou outro exame de rotina. Os principais problemas que eu já ative em relação quando eu procuro o atendimento de saúde do SUS é que a maioria das vezes o meu acompanhante não pode entrar comigo, seja ele mãe, pai, filho ou esposo. E todas as vezes que eu sou submetida a alguma medicação, o meu acompanhante, ele também não pode estar junto comigo no acompanhamento dessa medicação. Eu acho que as maiores Barreiras é quando…. antes de termos o atendimento, de chegar até o médico, pelo menos na UPA onde eu frequento no meu bairro, que tem as salas de classificação, as pessoas com baixa visão, elas não são orientadas até a sala. A gente tem que ficar procurando a sala de classificação sozinhas. Eu acho que a experiência mais positiva que eu tive todo esse tempo de SUS foi até bem recente. Eu estava muito debilitada e o meu esposo precisava entrar comigo na sala de atendimento. O segurança não quis deixar meu esposo entrar, e meu esposo falou para ele que eu era deficiente visual. Ele falou: Ah, nada, desculpa, sem problemas. Eu não sabia que ela era deficiente visual, o senhor pode entrar com ela. E ali, meu esposo pôde entrar e me acompanhar até a sala do atendimento médico. Quando eu entrei na sala do médico, já com meu esposo também. O médico foi muito solícito. Ele não me excluiu em momento nenhum. Ele não fez perguntas para o meu esposo, mas para mim. Eu achei isso muito legal. Ele sabia que eu estava precisando de um acompanhante, e ele tentou manter a consulta no nível onde meu esposo estava ali só para me acompanhar e ele apenas me consultar.
Quando eu descobri que eu estava grávida da minha filha, teve todo aquele medo, devido a questão da deficiência da família. Todo o meu pré-natal é eu fui muito bem acompanhada pelo posto de saúde onde eu fiz. O problema foi quando eu cheguei na maternidade. Assim que eu tive a minha filha, é já na maternidade, por um curto espaço de tempo, eu precisei ficar sozinha no hospital, Foi bem rápido, porque o meu esposo precisou pegar a documentação, pegar a roupa. Apesar do hospital ser público, eu acabei ficando em um quarto sozinha e a minha filha, quando ela nasceu, ela precisou tomar leite no copinho, porque eu ainda não estava dando muito leite. E foi uma indicação pediátrica que ela começasse a tomar o leite naquele copinho. E eu lembro que em todos os momentos que ela precisava tomar o leite, tinha alguém ali para me auxiliar, minha mãe, minhas tias, o meu esposo. Mas nesse dia que meu esposo ele não estava presente, a enfermeira, ela simplesmente colocou o copinho lá e falou assim, aqui mãe, está, aqui está o copinho, você pode dar para sua filha, mas ela em momento nenhum me perguntou se eu precisava de ajuda para fazer essa alimentação para a minha filha. E ela nem sequer passou pela cabeça dela, que eu era uma pessoa com baixa visão. Ela simplesmente achou que eu só estava usando óculos por ser uma maneira de é, sei lá…. porque eu tenho algum problema visual, mas nunca ela associou que era a baixa visão.
Quando eu vou atrás de qualquer atendimento para minha filha, é sempre muito difícil. Ainda mais quando ela tem que fazer algum tipo de medicação. Até o primeiro atendimento, onde é o primeiro contato com a classificação, com o médico é tudo bem tranquilo, porque eu só apenas falo o que está acontecendo, os sintomas. Só que quando chega na parte de que ela tem que ir para um lugar específico para fazer a medicação a gente tem um pouquinho de problemas. Acaba que o primeiro problema é: “É, mãe, você pode segurar o braço da sua filha e quando você vê que está bem apertadinho, você me fala para a gente poder tirar o sangue.” Ou então: “mãe, você pode segurar ela de uma forma que quando a gente dê a injeção, ela não se machuque.” Eu sempre preciso de auxílio nessas horas e a maioria das vezes o hospital nunca tem, porque sempre só tem uma enfermeira ali. E quando a gente vai até a sala de medicação, sempre só pode um acompanhante ou eu e o meu esposo. Nunca pode entrar os dois. Eu acho que esse é um dos maiores problemas que eu tenho hoje, quando eu levo a minha em algum posto.
A maior dica que eu posso dar para as pessoas que fazem parte desse corpo médico de atendimento, acho que a gente pode começar com o próprio segurança, porque ele que tem o primeiro contacto com o paciente, quando o paciente ele entra na unidade hospitalar é o segurança que vai ver ele. Então acho que seria muito legal se o segurança perguntasse, se tivesse um treinamento para que esse segurança perguntasse: “oi, você tem algum tipo de deficiência?”, “Você precisa de um acompanhante?” E a pessoa não precisasse provar que ela tenha deficiência a todo o tempo. E depois, quando chegasse na recepção, também o recepcionista fosse mais solícito e perguntassem: “você precisa de ajuda para assinar ou você assina?”. A gente quase não ouve isso. A gente ouve isso em todos os lugares: “Você consegue assinar sozinho?” Mas quando chega no hospital, a gente não ouve muito essa pergunta.
E na minha opinião, acho que as pessoas que trabalham no hospital precisam ter mais empatia umas pelas outras. Quando uma pessoa com deficiência chega ali, a maioria das vezes ela fica sentada tentando saber se é a hora dela ser atendida ou se não é. Eu acho que toda essa empatia de poder encaminhar, de poder dizer a pessoa que é ali que ela tem que estar, que é em tal sala, que é em tal laboratório, desde essas primeiras pessoas, antes de chegar no médico, eu acho muito importante. E quando chega já no atendimento médico, eu acho que seria muito válido o médico tentar explicar para essa pessoa que tem a deficiência. Acho que na maioria das vezes é visual. Olha, é esse medicamento aqui que eu estou passando para você, ele vai fazer isso e isso e isso você vai tomar ele de tantas em tantas horas e é, você vai fazer é em tantos, em tantos dias. A pessoa não precisa esperar que alguém leia para ela o que está prescrito, para poder fazer uso do medicamento.
Na próxima parte desse módulo, vamos apresentar um exemplo de atendimento de uma pessoa com deficiência visual – cegueira por um profissional de saúde.