Apresentação do módulo Pessoa Surda ou Pessoa com surdez
Boas-vindas à nossa videoaula para promoção da saúde em Libras no Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje, aprenderemos um pouco mais sobre Língua Brasileira de Sinais, também conhecida como Libras, que é a língua utilizada pela comunidade surda para se comunicar e expressar ideias.
Neste contexto, a promoção da saúde em Libras no SUS não apenas possibilita uma comunicação mais eficaz entre profissionais de saúde e pessoas com deficiência auditiva, mas também contribui para a quebra de barreiras culturais e linguísticas que muitas vezes impedem o acesso a cuidados adequados.
Neste espaço, aprenderemos frases essenciais em Libras orientadas para o contexto da saúde, enriquecendo nosso conhecimento sobre a inclusão e facilitando a comunicação com pessoas surdas em unidades de saúde, ambientes tão importante nos desafios do atendimento às pessoas surdas, conforme vídeo a seguir.
Transcrição
Tela com fundo preto contendo texto em branco. Esta licença permite que outros adaptem, remixem e criem a partir deste trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam ao autor o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos. Este vídeo contém audiodescrição e acessibilidade em libras.
Vinheta em movimento onde quatro quadrados se conectam como em um quebra-cabeça. Em cinza, Trilhas da Inclusão, formação básica em acessibilidade comunicacional. Tela com fundo branco e azul. A parte branca ocupa a esquerda e o centro e se conecta com a parte azul à direita como uma peça de quebra-cabeça. Os textos estão em azul e preto. Trilhas da inclusão na perspectiva da deficiência auditiva, desafios no atendimento à pessoa surda.
Regina Célia. Professora, INES.
No rodapé, quatro peças de um quebra-cabeça estão encaixadas formando um quadrado. A primeira tem fundo azul com a logo do SUS em branco. A segunda tem fundo marrom com a silhueta do castelo da Fiocruz em branco. Abaixo, a terceira tem fundo roxo e o desenho em branco de uma lâmpada acesa. A quarta com fundo verde, o desenho de uma figura humana de braços e pernas abertas com moldura circular. Ao lado, o texto em cinza escuro. Trilhas da Inclusão: Formação básica em acessibilidade comunicacional.
Regina Célia é uma mulher branca, de pele morena, tem os cabelos avermelhados lisos na altura dos ombros, usa blusa clara com decote redondo, está sentada em frente a uma estante com livros.
A intérprete de libras é uma mulher preta de pele Clara, cabelos pretos, lisos presos, usa blusa branca com detalhes pretos. Está em pé.
Nome é Regina Célia Célia. Eu sou professora de ciências do instituto nacional de educação de surdos há 38 anos. O INES é um centro de referência na área da surdez que oferece ensino bilíngue para a comunidade surda. No final da década de 80, os professores perceberam um índice de contaminação pelo HIV significativo nos alunos da instituição. E isso nos fez pensar na vulnerabilidade dessa população frente a questão da saúde. Envolvendo as barreiras linguísticas que existem entre o surdo e ouvinte. Lembrando que todas as campanhas e as informações que são veiculadas pela mídia, seja televisiva ou escrita, ela está na língua oral, no nosso caso, na língua portuguesa, a que a maioria dos surdos não tem acesso. Então fizemos a pergunta: como será essa relação desse paciente surdo junto ao profissional da saúde? Então iniciamos algumas parcerias com instituições relacionadas à saúde e nessas parcerias, nós podemos observar que os profissionais da saúde não têm o conhecimento do impacto da consequência que a surdez tem nas questões do campo da educação e na sociabilização do sujeito surdo.
Narrador: A criação do NOSS: Núcleo de Orientação à Saúde do Surdo – INES.
Em 2004, o INES cria o núcleo de orientação a saúde do surdo. O NOSS. O NOSS é um programa de educação em saúde, que eu venho coordenando junto uma equipe de profissionais, professores surdos e ouvintes. A missão do NOSS é incluir o surdo, através da promoção da saúde. Na área de educação, o nosso objetivo é a construção de conhecimentos científicos sobre saúde. E na área da saúde, promovendo acessibilidade através da sensibilização dos profissionais ouvintes da saúde, desde o acolhimento, passando pela anamnese. O logotipo do NOSS criado pela comunidade surda é um triângulo.
Narrador: Dedos médios e indicadores se tocam.
Que representa uma concepção holística da saúde. Cada vértice do triângulo representa o aspecto físico biológico, mental, emocional e o social.
Narrador: Distinção surdo e deficiente auditivo.
Falamos do sujeito surdo, mas é importante fazer uma diferenciação entre o conceito de surdo e deficiente auditivo. A comunidade surda se define como uma minoria linguística, que é fundamentada pela ciência através da antropologia. O surdo tem uma identidade visual em sua primeira língua, é a língua de sinais, no nosso caso a libras, a língua brasileira de sinais. O deficiente auditivo se identifica como a cultura majoritária ouvinte e sua primeira língua é a língua oral, nesse caso a língua portuguesa.
Narrador: Atividades desenvolvidas no NOSS – cursos de agente multiplicador em saúde sexual e reprodutiva, oficinas interativas e outras
O NOSS oferece diversas atividades para os alunos do colégio de aplicação Cap-INES. Essas atividades são cursos em agente multiplicador em saúde sexual reprodutiva, oficinas, onde se desenvolvem dinâmicas interativas com os alunos e a sala de conversa, que é uma atividade onde o aluno busca aconselhamento junto ao profissional surdo no que diz respeito a parte comportamental, relacionada principalmente às questões de saúde sexual e reprodutiva.
Narrador: Assistência técnica para profissionais da saúde – estudos interinstitucionais e multidisciplinares
O NOSS é um campo de coleta de dados que foram levados para estudos e pesquisas juntos a profissionais da saúde. Esses dados são contextualizados como conteúdos dentro das assistências técnicas que são oferecidas para os médicos, profissionais da saúde em geral e a estudantes de medicina. Nessas atividades é, o surdo, o profissional surdo do NOSS protagoniza a diversidade de ser surdo e a relação que tem com o tipo de comunicação que esse surdo vai utilizar frente ao ouvinte. E dependendo dessa comunicação, será uma comunicação mais facilitada, mais ou mais complexa, em uma em um atendimento médico com esse paciente.
Narrador: A diversidade de ser surdo – os fatores que influenciam na socialização do surdo.
A surdez não é homogênea. A socialização do surdo está diretamente relacionada com, em que período a criança perdeu a audição, o grau de perda auditiva, a etiologia da surdez, quando ele teve acesso à saúde, se foi orientada o uso de prótese auditiva ou implante coclear. E na área da educação se teve acesso à estimulação precoce e acesso a uma educação bilíngue, onde a língua de instrução é a libras. Esses diferentes aspectos que envolvem a surdez estão diretamente relacionado com o tipo de comunicação que o surdo vai utilizar. Podendo ser: a língua brasileira de sinais, a libras; a língua portuguesa, pode ser um surdo que utilize as duas, um surdo bilíngue, ou até um surdo que não tem uma língua estruturada, utilizando sinais icônicos, simbólicos.
Narrador: Barreiras na comunicação quais são as barreiras na relação médico paciente, surdo e como minimizá-las?
O surdo usuário da língua portuguesa, fará a leitura labial e a leitura corporal. Tem acesso. Ele terá acesso escrita, mas com diferentes graus de dificuldade na interpretação destes textos. Já o surdo usuário da língua de sinais, estará num consultório ou num hospital acompanhado de um intérprete, de um profissional, intérprete de um amigo ou de alguém da família. O deficiente auditivo, na maioria das vezes, consegue estabelecer uma comunicação adequada, desde que o profissional fale de frente, claro e sem a necessidade de aumentar o volume da voz, articulando com facilidade os fonemas para ajudar a compreensão na leitura labial. Alguns surdos apresentam um atraso na linguagem oral quando se comparado com uma criança ou um jovem adulto da mesma idade. Essa percepção por parte do profissional ouvinte da saúde, pode ser interpretada erroneamente uma certa infantilidade ou até mesmo um problema cognitivo nesse sujeito. É muito importante também que que quando um paciente surdo, usuário de libras, acompanhado do intérprete ou de algum ouvinte, o médico tenha o cuidado de olhar para o paciente e não para o acompanhante ou intérprete que estará falando no lugar deste surdo. O face a face, o olho no olho é muito importante nessa relação para estabelecer uma relação de confiabilidade e de segurança. Fatores que vão ser muito importantes para uma anamnese e um diagnóstico mais preciso.
No ponto de vista de uma, a humanização é muito importante, o médico ou qualquer profissional da saúde ter algum conhecimento em qualquer nível que seja da língua de sinais. Isso mostra um respeito à diversidade, o acolhimento a pessoa surda, o que é muito importante em uma relação paciente – profissional da saúde. Atualmente, as instituições que trabalham com a surdez oferecem glossários voltados para conceitos, voltados para a saúde e cursos específicos para profissionais da saúde. Demonstrar interesse para a cultura identidade de uma minoria que é discriminada socialmente, vai aumentar muito a interação entre esses profissionais, minimizando barreiras, que vai muito além da questão da língua, mas da aceitação, principalmente. O ambiente físico de consultórios e hospitais devem ser adaptados nas chamadas do paciente através de letreiros luminosos, seja pelo número ou pelo nome do paciente, pois é muito comum o paciente ficar esperando por não perceber que foi chamado e muitas vezes perder a consulta ou ficar por último no consultório, o que gera muitos conflitos, já iniciando uma relação não muito amistosa. É importante ressaltar o sofrimento psíquico emocional de muitos surdos em diversas situações na área da saúde. Poderíamos citar como exemplo centros cirúrgicos, onde todos os profissionais estão com a boca acampada e apenas os olhos visíveis, gerando muita angústia nesse paciente e sem saber o que vai acontecer com ele. Outro problema muito detectado nos nossos estudos foi a questão da utilização do uso dos medicamentos, onde muitas vezes: frequência, forma de tomar o remédio são compreendidos de forma errada, alterando todo um tratamento desse paciente. O paciente surdo tem muita dificuldade em relacionar as suas queixas físicas com as especialidades da área médica, por isso é muito importante que pelo menos na atenção básica tenha um profissional que tenha algum domínio da língua de sinais. Refletindo sobre a universalidade, igualdade e equidade, temos certeza que estamos construindo uma sociedade mais justa. Quando a acessibilidade respeita diferenças e os relacionamentos são mais humanizados.
Além disso, vamos conhecer algumas frases específicas sobre o atendimento em saúde relacionado ao Sistema Único de Saúde, proporcionando uma compreensão mais abrangente do sistema de saúde brasileiro.
A seguir, o estudante de medicina surdo, Matheus Oliveira, compartilha sua jornada de experiência, barreiras encontradas e busca por direitos. Apesar dos inúmeros desafios enfrentados, a paixão pela medicina e o seu desejo de fazer a diferença na vida das pessoas os motivaram a seguir em frente.
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Tela com fundo preto contendo texto em branco. Esta licença permite que outros adaptem, remixem e criem a partir deste trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam ao autor o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos. Este vídeo contém audiodescrição e acessibilidade em libras.
Vinheta em movimento onde quatro quadrados se conectam como em um quebra-cabeça. Em cinza, Trilhas da Inclusão, formação básica em acessibilidade comunicacional. Tela com fundo branco e azul. A parte branca ocupa a esquerda e o centro e se conecta com a parte azul à direita como uma peça de quebra-cabeça. Os textos estão em azul e preto. Trilhas da inclusão na perspectiva da deficiência auditiva, introdução.
Mateus Oliveira, estudante de medicina UFRJ
No rodapé, quatro peças de um quebra-cabeça estão encaixadas formando um quadrado. A primeira tem fundo azul com a logo do SUS em branco. A segunda tem fundo marrom com a silhueta do castelo da Fiocruz em branco. Abaixo, a terceira tem fundo roxo e o desenho em branco de uma lâmpada acesa. A quarta com fundo verde, o desenho de uma figura humana de braços e pernas abertas com moldura circular. Ao lado, o texto em cinza escuro. Trilhas da Inclusão: Formação básica em acessibilidade comunicacional.
Olá, sou Mateus Oliveira e vou começar me autodescrevendo. Sou um homem magro, de pele parta barba aparente e rabo de cavalo. Uso uma camisa de Manga longa de cor preta. Ao fundo, uma paisagem com árvores e o castelo da Fiocruz. A língua brasileira de sinais, libras é a língua utilizada por surdos brasileiros como meio de comunicação e expressão. É fundamental para a inclusão social das pessoas surdas. Inclusive no contexto da saúde. No Brasil, cerca de 9,7 milhões de pessoas apresentam algum grau de surdez. Apesar de haver leis e decretos sobre a libras, como a lei 10436 de 2002 e o decreto 5626 de 2005, ainda há muito o que fazer. Essas dificuldades se estendem ao contexto da saúde, no qual o atendimento as pessoas surdas ainda é ineficiente, devido ao não cumprimento da legislação citada. É preciso assegurar o direito das pessoas surdas de terem informações e acesso à saúde através da sua língua. Esse é o caminho para uma inclusão efetiva na saúde. A começar, pelo contato direto entre pacientes surdos e profissionais de saúde em libras. Por que eu escolhi a medicina? Eu me lembro que quando eu ia ao hospital, nunca sabia o que estava acontecendo. O hospital sempre foi um lugar inacessível para mim. Meu intuito em cursar medicina é assegurar o direito dos meus pares de terem acesso à saúde. Eu sei o que é não conseguir ser atendido e não ter informação por conta da língua. As pessoas não sabem o que é ser surdo, o que é a cultura surda. Imaginem o quanto é difícil ser surdo em um ambiente clínico e não poder se comunicar. Como médico surdo, quero me apoderar desse espaço e ser modelo para futuras gerações de surdos. Eu sei o impacto que isso pode causar e como os surdos serão beneficiados por serem atendidos em sua língua. Não é fácil ser um aluno surdo em um curso de medicina. Porque nem os médicos e nem os professores sabem o que é ser surdo. A gente vai ficando meio de lado. É um desafio para todo mundo, até porque eu sou o primeiro graduando em medicina no Brasil. Então, realmente fica difícil saber o que fazer ou não. Sempre tem aquela desconfiança, olhares, vai dar certo ou não? Mas a principal questão é a linguística. A partir dela, a gente consegue resolver muita coisa na academia.
Espero que com este curso o público ouvinte em geral possa ter um primeiro contato com a libras e se interessa em aprender pelo menos o básico. Seja estudante de medicina, enfermagem ou qualquer outro curso da área da saúde. Quando nós surdos somos atendidos na nossa língua, chega a ser emocionante. É um cuidado com a autonomia, acesso claro ao que está sendo dito. E nós, surdos, também merecemos isso.
Prepare-se para conhecer sinais de Libras em saúde e mergulhar em um mundo de aprendizado inclusivo e empático. Vamos começar essa trilha rumo à inclusão e ao conhecimento da língua de sinais!
Para isso, a segunda parte desse módulo vai focar nas terminologias em Libras para promoção em saúde